A teologia não encontra lugar somente na igreja. O
mundo passa por grandes transformações (econômicas, sociais, antropológicas,
sexuais e etc.), portanto com alta freqüência, surgem questões importantes.
Como agentes e vitimas das transformações, as pessoas precisam de respostas.
No Brasil existe um número elevado de Seminários,
todavia, muitos destes olham apenas para dentro da igreja, pensando
principalmente em estratégias de crescimento numérico. É claro que isso diminui
o papel da teologia, uma vez que esta é dotada de pensamento critico e
transformador, que muitas vezes encontra uma forte resistência na própria
liderança eclesiástica, pois ela, a teologia, reflete, com pensamento critico
(entenda-se como um pensamento que leva a reflexão, a fim de transformar o
meio), suas práticas.
É importante avaliar o nível de exigência aplicado
aos cursos de teologia. Muitos dos futuros bacharéis já exercem a função
pastoral, e por causa dela - ou pela desculpa honrosa que a ela é atribuída – são
apenas participantes de tais cursos, se furtando, muitas vezes, de se
entregarem ao pensamento critico, mas às vezes, construtivo, que freqüentemente
ocorre nas discussões propostas em sala de aula. Em muitas situações, a própria
instituição leva em consideração todo o “fardo” do aluno e releva a
displicência de alguns. O aluno lê, mas não é estimulado a construir teologia
(pensar hermeneuticamente). Quando muito, o foco da teologia está na igreja, e
não na sociedade como um todo.
Penso que o pastoreio tem haver com a função, ou
vocação. Alguns são vocacionados, outros apenas exercem o pastorado, mas
certamente os pastores dedicarão o tempo necessário para as questões que seu
chamado lhe impõe. Teólogo é quem escreve, pensa e pratica a teologia, reflete
sobre a aplicação da teologia na igreja e também em toda sociedade (dentro e
fora da Eclésia). Tanto o pastor quanto o teólogo precisam dialogar com a
sociedade.
Ao olhar o quadro, percebo que os seminários têm
condições de formarem bacharéis em teologia, mas não formam pastores. O pastor
está tirando as ovelhas do curral e indicando o caminho a ser seguido...
todavia, para isso é necessário ser bem instruído, conhecedor das Escrituras e
nisto não há lugar melhor do que os seminários.
Como uns dos degraus a serem vencidos os cursos de
Graduação em Teologia não exercem com eficiência sua função, pois enquanto
alunos, os futuros pastores deveriam caminhar pelas vias históricas da
Teologia, entendendo os conceitos e teorias, sabendo interpretar as Escrituras
tendo apenas ao seu lado o ponto de vista bíblico, puro, não revestido, livre
da tentação da influência denominacional. Aprendam a respeitar os pontos de
vistas teológicos que diferem do seu, e que saibam argumentar uma crença
especifica. Que enfrentem os problemas teológicos históricos e críticos, com
mente aberta e que criem discursos para esclarecer os fundamentos principais da
fé cristã. Saibam
manejar adequadamente a própria Bíblia; que tenham intimidade com as Ciências
Humanas para a reflexão teológica; que tenham as introduções mínimas às
questões de prática pastoral. Portanto, Cursos de Graduação em Teologia devem
formar Bacharéis em Teologia.
Segundo o senso comum
eclesiástico, fica a idéia que para pastorado é necessário somente a pratica.
Agora, não devemos esquecer que é possível aplicar a teologia. Ela é colocada
em pratica nas tarefas diárias a que pastores são submetidos. O que muitos não
levam em consideração, é que os temas teológicos também são desenvolvidos a
partir da observação da prática. No senso comum, prática significa fazer,
o contrário da teoria, que significa pensar e não fazer. Ainda no senso
comum, pessoas práticas são aquelas que, mediante sua experiência de vida,
resolvem problemas reais e agem com certa eficiência; pessoas teóricas são
aquelas que discutem problemas intelectuais, mas são incapazes ou incompetentes
ao agir – reza o ditado popular: “na prática, a teoria é outra”. Essa é uma
visão pobre da pratica, e é uma das causas da rejeição ao pensamento teórico
teológico nas igrejas. Há uma idéia de que em seminários olhamos apenas para
teoria e que o aluno aprende mesmo na pratica, ou seja, no cotidiano de sua
igreja. A verdade é que se pode aprender péssima teoria em seminários e péssima
pratica nas igrejas.
Penso que não devemos tratar os cursos de Graduação como lugares em que o
postulando ao pastorado freqüenta com a finalidade de se tornar pastor. Agora é
fato de que do quadro discente sairão vocacionados, que seguirão em sua
formação, seja ela prática ou teórica, até sua ordenação ou após ela. Prefiro
pensar ainda que enquanto esse vocacionado estiver em um seminário, ainda é um
bacharelando em Teologia, e enquanto tal deve estudar e se aprofundar em
Teologia, que será indispensável à função pastoral. É óbvio que em um curso
teológico que se preze toda a carga teórico-prático que diz respeito à função
pastoral será introduzida, mas a ênfase deve ser formar Bacharéis em Teologia e
se possível, teólogos.
Como já disse anteriormente, após a conclusão do curso, teremos bacharéis
em teologia, mas para ser teólogo, será necessário escrever, pensar, refletir e
praticar a teologia na igreja e também na sociedade.
É claro que a Teologia está a serviço da igreja,
mas ela deve estar presente também nas discussões da sociedade. Serve para
orientar dentro e fora da comunidade cristã.
Ela também é discurso, ação comunicativa, atividade de
comunidades e não de indivíduos isolados e, como tal, se constrói a partir de
diálogo e de reflexão. É preciso superar a noção de que teologia só é feita por
“profissionais” que se isolam da comunidade e vivem em meio a livros, textos e
computadores. O papel de teólogos é partilhar a reflexão, estimular o
pensamento e a ação crítica e construtiva. Como discurso sobre a ação cristã, o
sujeito privilegiado da Teologia é a comunidade cristã em ação no mundo, para a
qual a Teologia servirá como meio e expressão de discernimento simultaneamente
crítico e construtivo.
A Teologia serve também para situar, orientar as
igrejas no espaço público, onde é formada a opinião pública, discutindo
assuntos que atingem a todos, levando a sociedade a construir bases que são
aliadas a vontade de Deus e não somente à dos homens.
A maior parte das instituições eclesiásticas, assim
como seus ministros, não se revelam férteis no tocante à teologia, deixando-a
quase que totalmente alocada às instituições de educação teológica e por isso,
se disseminou a falsa idéia de que onde muito se estuda a teologia, pouco se forma
em termos espirituais. O muito estudo nada tem de errado quanto à
espiritualidade do ser humano. Por este motivo, vemos muitos pastores repetindo
dogmas (o que se pensa é a verdade – talvez uma convicção errada de conceitos
bíblicos), sem, contudo, refletir no que está repetindo, não se atentando para
erros doutrinários. Ou dizendo palavras de “Deus” sem nenhuma revelação bíblica
e totalmente fora de contexto, pois nada aprendeu sobre hermenêutica bíblica,
dando ênfase total ao subjetivo, deixando a responsabilidade para sua
interpretação.
É obvio que há excelentes pastores, com um caráter
aprovado, dignos do chamado, e que nunca entraram em um seminário. Muitos, pela
graça de Deus, conhecem as Escrituras. Muitos ainda aprenderam conceitos e
teorias lendo livros de teólogos renomados, sem os quais o trabalho pastoral
seria ainda mais difícil, pois foi o pensar teologia que trouxe a rica e vasta
literatura que possuímos hoje e que sem ela muitas coisas ficariam sem sentido,
pois não se teria seu real significado. Outros influenciados por grandes homens
e mulheres de Deus, que ainda hoje, derramam de seu conhecimento e unção capaz
de transformar a vida de muitas pessoas. Esses pastores são exemplos para
muitos, mas trata-se de exceção.
Na efetiva formação pastoral, também deve ser levado em alta consideração a
formação teológica, bem como de suas respectivas especializações do que diz
respeito à função e vocação do pastor, mas acima de tudo, deve-se respeitar o
Chamado, que antes de qualquer curso teológico, vêm do próprio Deus. Todavia,
não é ideal imaginar-se pastor, sem um conhecimento bíblico centrado e
convincentemente cristão, teoria esta que a teologia propõe-se entregar.
Como já citei anteriormente, a teologia não está
rendida ao pastoreio, ela também pode ser pública, assim como outros saberes
que visam não só explicar a realidade, mas transformá-la. Deve ser feita
enquanto participante do espaço público, ou da esfera pública. Ela é pratica,
na medida que primeiro ela tem o compromisso com o Cristo Vivo, com o serviço
cristão no mundo, com a ação da igreja em todas as esferas. Ao mesmo tempo,
porém, é discurso construtivo, pois não está presa apenas em descobrir e apontar
erros. Através dela pretende responder positivamente à ação de Deus, que tudo
criou e a tudo traz vida, visando levar as comunidades a se reconciliar com
Deus que está presente e atuante em nosso meio.
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Artigo escrito por Leandro Rodrigues | dia 02 de Dezembro de 2014
Leandro Rodrigues é formado em Teologia pelo SETAL (turma de 2010)
Artigo escrito para 2° Encontro de Alunos e Ex-Alunos do SETAL